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Resenha: Taxidermia (2006)

Por: | 17:03
Avaliação

Esse é o tipo de filme que é capaz de provocar toda e qualquer reação negativa até no espectador mais preparado. Não que isso seja ruim, de maneira nenhuma. É um trabalho de se respeitar.

Três gerações (avô, pai e filho) arrastando hábitos, obsessões e costumes bizarros e doentios pela Hungria e Europa Central diante de seus olhos. Três histórias contadas com tamanha delicadeza e doçura embora sendo tão grotescas, que acaba sendo uma coisa feia bonita de se ver.

O avô é um soldado do exército comunista da Primeira Guerra Mundial que passa o dia se masturbando compulsivamente. E o mais “deprimente”, o que mais me chamou a atenção é que ele anseia tanto pelo gozo, que é capaz de imaginar e fazer todo tipo de coisa para chegar lá o mais rápido possível, para talvez descobrir o que ele deseja e o que lhe satisfaz. E isso inclui imaginar e fazer as coisas mais bizarras que a gente pode imaginar. Como por exemplo: passar uma espécie de lubrificante num buraco de tijolo na parede e enfiar o membro enquanto vê duas jovens do vilarejo brincarem na neve e fazer sexo sobre uma leitoa abatida com a esposa obesa e peluda do comandante que o mata logo em seguida ao pegá-lo cometendo tal ato.


A segunda história e parte do filme fala sobre o filho – que nasceu com um rabo de porco, mas é operado – do soldado assassinado que desde criança apresenta um certo talento para competições de comilança. Ele se apaixona por uma mulher que não só partilha do mesmo peso na balança, como também da mesma modalidade de competições em que participa. Contando assim, parece um simples romance entre duas pessoas acima do peso, mas isso vai um pouco além do imaginado. Conflitos e detalhes repugnantes são mostrados em maior quantidade quanto na primeira geração desta linhagem sanguínea exótica.
Como havia falado na primeira parte, todo o filme traz esta compulsão por prazer, não só no sexo mas em tudo aquilo que dá prazer aos personagens, seja o que for, seja como for, por pior que sejam. E isso é mostrado tão profundamente, como se estivesse grudando nossos olhos em um microscópio, mas entre nosso cérebro e a realidade e radicalidade. Que é como nos é mostrado tudo. Naturalmente, mas da forma mais radical e horrenda possível.

A terceira parte do filme fala sobre o fruto do casal de gordinhos. Um taxidermista magricela que vive a vida empalhando animais – um dos prazeres estranhos do qual eu falei e que o personagem faz questão de demonstrar – e cuidando de seu pai, o campeão das competições de comida da segunda parte do filme, já velho e inválido de tão gordo. O cotidiano do jovem raquítico se baseia em trocar as bacias em que seu pai faz as necessidades, alimentá-lo com doces, alimentar os gatos na jaula e transformar animais em objetos de exposição. Embora pareça uma rotina entediante. Ele gosta do que faz e tem um plano incrível para si mesmo.


Cada geração é trabalhada em mostrar a obscuridade humana de diversas formas, embora como costumes tão doentios. A gente chega a se esquecer que são seres humanos, como se nossas mentes fossem puxadas para além dessa humanidade e focassem em seus hábitos e aparência ridículas, grotescas e discriminadas pela sociedade. Que embora a gente admita isso no filme, não seria diferente com a realidade mostrada radicalmente. Esse é o objetivo do filme, isso foi o que me deixou fascinada no final.

Embora eu me atraia por esses tipos de filme e ache importante para o cinéfilo ter essas experiências na lista. Este não é um filme que levaria na casa de um colega falando "Faz a pipoca lá e chama suas tias". Reconheço o absurdo trabalho feito pelo diretor e a adaptação bem feita dos contos de Lajos Parti Nagy. Não se esquecendo da belíssima trilha sonora. Embora ele possua essa pureza repugnante que tanto promete e seja tão genial, não é um filme que eu veria pela segunda vez., mas ainda assim recomendo a todo cinéfilo que ainda não teve essa experiência.

Taxidermia (Taxidermia)
Direção: György Pálfi 
Elenco: Marc Bischoff, Erwin Leder, Csaba Czene, Piroska Molnár, Gergely Trócsányi, Adél Stanczel