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Resenha: Control - A História de Ian Curtis (2007)

Por: | 22:29 2 comentários

Sam Riley está aí para, além de me surpreender com sua absurda atuação, matar a saudade de algo que não tive oportunidade de acompanhar, no papel de Ian Curtis, falecido vocalista da banda Joy Division. Uma das coisas que mais gosto de admirar nos filmes é a trilha sonora e a fotografia e olha, este filme está de parabéns e não só por isso. Mas em levar as atuações e todo o contexto.

Boa parte dos bons artistas acabam seguindo uma carreira sob influência e inspiração de alguém. Com Ian foi quase igual. Tendo também David Bowie como uma de suas inspirações. A ideia de querer subir aos palcos veio após Ian ver a um show do Sex Pistols em 79.

Conhece dois jovens interessados em montar sua banda e logo assumem a formação original (tendo o notável Stephen Morris como baterista. Atual do New Order) Este foi um momento no filme que transpareceu uma característica notável em Ian. Ele era um cara precipitado que se deixava levar pelas momentâneas excitações e no final acabava por se arrepender, sob pressão, culpa. O que na verdade é algo em comum entre as pessoas.


Em algumas cenas de Control você têm a sensação de que não é uma biografia adaptada para o cinema e sim cenas reais dos momentos, isso pela perfeição e a sensação realista que dão as cenas, todas em preto e branco. Sem contar a incrível semelhança entre Sam Riley e Ian Curtis. Também toda a fisionomia dos atores e seus devidos personagens.

Na cena em que Joy Division vai se apresentar em um programa de televisão da BBC2, lançando o primeiro single da banda, "Transmission", que ficou famoso de certa forma, por conta da performance da banda. É aí que Riley entra com tudo, com o estilo de dança de Ian, semelhante aos ataques epiléticos que ele tinha.

Ian Curtis era um cara notavelmente sobrecarregado de angustia e conflitos sentimentais, isso tudo se refletia no seu olhar, no seu andar e em todos os seus gestos, totalmente perceptível em suas apresentações e visto quase como real, em Control. Samantha Morton é Debbie, esposa de Ian, cuja interpretação também é impecável. E Toby Kebbell no papel de Rob Gretton, empresário da banda, que também tem grande destaque no filme.

Corbjin contou com os ex integrantes do Joy Division e também com Deborah Curtis para desenvolver a adaptação. Onde fica uma certa chateação? A viúva de Curtis publicou uma biografia (Touching from a Distance, 1994) onde fala sobre sua  vida íntima com Ian. Corbjin, o diretor centrou todo seu trabalho neste livro, levando grande parte do filme mais pelo relacionamento de Deborah, Ian e sua amante, do que o próprio Ian.


Em algumas cenas do filme você nota o "dedo" da viúva Curtis em meio a toda história, por conta da tamanha vitimização que ela faz e no fundo, a tentativa de voltar toda a atenção para isso. O que de maneira alguma descaracteriza ou desvaloriza a obra de Corbjin. O filme retrata Ian Curtis com tal cautela e perfeição que, com todo respeito, eu tive diversas vezes a sensação de que Curtis havia saído do túmulo e na pele de Sam Riley, para mostrar pra nós como foi um rapaz desgraçado, porém talentoso. O poeta extremamente melancólico do pós-punk. É o tipo de filme que não precisa de muito diálogo. O comportamento, a reação dos personagens são o bastante pra transparecer seus sentimentos em tal momento, o que realmente dispensa excesso de diálogo.

Ian tomava remédios e bebia bastante, o que o afetava ainda mais, era depressivo e isso se intensificava conforme a fama aumentava, junto aos conflitos sentimentais com sua esposa e a angústia por se achar um péssimo pai.. O jovem teve uma trajetória curta mas bastante intensa. O espectador que assiste e entende, é capaz de se sentir contagiado pela obscuridade e melancolia das sequências do filme e a tristeza e a pressão que Ian Curtis carregava nas costas. Isso tudo se sobrecarrega ainda mais no final do filme. Ian pede divórcio a Debbie, seus ataques epiléticos se tornam frequentes, e está prestes a sair em uma turnê com a banda nos EUA. Pressionado e indeciso, Ian se suicida na cozinha de sua casa, enforcado.

Existem filmes que lhe arrancam algumas lágrimas. Este me arrancou soluços e fez com que meu coração parecesse um pano de chão velho sendo torcido em um balde de água suja. O filme se encerra com os gritos e lágrimas da viúva de Curtis e sua amante, ao som de Atmosphere. A causa do suicídio de Ian sob tudo foi dada como sem um motivo específico, mas pelas letras de suas músicas você nota que o motivo possivelmente foi a sobrecarga que suas ações foram resultando ao curto prazo de sua vida. O Casamento, o envolvimento com outra moça, seus conflitos sentimentais em si, a fama e tudo o que consequentemente foi se tornando um angústia e ódio no coração de Ian.

A trilha sonora do filme é composta por músicas do próprio Joy Division (onde em algumas cenas os próprios atores as interpretam) entre outras bandas. É um filme que vale a pena ser visto uma, duas, três vezes e mais, merece um espaço na estante, junto a coleção de filmes favoritos.

Dirigido por Anton Corbijn

2 comentários: Deixe o seu comentário

  1. Uma excelente resenha para um excelente filme!

    Apenas um detalhe, você menciona que o Stephen Morris do New Order estava também no Joy Division, mas na verdade o New Order é composto de todos os membros do Joy Divison (com a óbvia excessão do Ian) que resolveram 'fazer outra banda' depois do suicídio dele.

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    1. Obrigada, Frank. Não, eu sei que "tudo o que sobrou" do JD se tornou o New Order. Eu mencionei o Morris por hoje ser o mais lembrado do New Order em questão de nome e essas coisas. Por exemplo, se perguntar pra alguém o nome de um dos integrantes do New Order, a probabilidade de citarem o Morris é maior do que a dos outros integrantes.

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