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Resenha: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)

Por: | 13:28 2 comentários
Avaliação

Cada vez que assisto um filme do cinema francês me apaixono ainda mais. Uma coisa que sempre me encanta neles, é a tamanha sutileza. Geralmente são filmes ricos em detalhes, o que os torna ainda mais encantadores.

Um filme cuja fotografia, visivelmente tratou de cuidar muito bem até da palheta de cores. A combinação envolvendo os cenários, o figurino e até as expressões dos personagens, que ainda que fossem de fúria, continuavam delicadas. A trilha sonora é tão contagiante que te convida a dançar com ela, você não sabe se continua a assistir o filme civilizadamente ou se puxa os familiares e os conduz pelos cômodos da casa.

O filme foca bastante uma realidade um pouco distinta. Não como aquela linda história de amor que você se identifica por já ter sonhado com uma parecida ou pelo personagem ter os mesmos problemas que você, ou por você já ter se sentido como ele, alguma vez na sua vida, em alguma cena qualquer do filme. É a verdade não nua e crua, mas ainda sim jogada na sua cara.


Amélie não teve uma criação muito comum e seus pais eram um tanto neuróticos. Tudo isso influenciou a menina na fase adulta, tinha problemas para se relacionar com as pessoas. Isso é o que boa parte das pessoa que assistem o filme, diz. Não é mentira, mas não é de inteira verdade. Afinal, ela se aproveitava da pouca dificuldade que tinha como desculpa para fazer algo que realmente queria, não interagir com tantas outras pessoas. O que mais intriga é que ainda que tivesse esse problema para se relacionar com as pessoas, tinha uma forma racional mas também um tanto fantasiosa de pensar e agir em relação e com as mesmas.

Existem as partes mais encantadoras do filme, entre elas, quando Amélie bastante entusiasmada ajuda um senhor cego a não só a atravessar a rua mas o conduz por alguns quarteirões narrando os acontecimentos, o que as pessoas estão fazendo, para onde estão olhando, por onde estão passando, o preço dos legumes e verduras da feira até que o deixa na estação de trem onde ele costuma ficar.

A timidez de Amélie em certo ponto do filme parece forçada, mas é tão real quanto quem consegue perceber. Afinal, a moça sempre se escondeu em um mundo de fantasias, o que dá a ela esse ar infantil, e ainda que aparentasse descaradamente ter uma ingenuidade absurda, ela não existia. Ela conhece o mundo por trás dos sonhos e fantasias mas viveu lá por tanto tempo que acaba ficando com medo de sair e encarar a realidade ou é acomodada demais para fazê-lo. Este era o problema de Amélie e sua paixão pelo jovem Nino. Ela arrumava diversos pretextos para poder vê-lo nem que fosse de longe, mas nunca teve a coragem ou necessidade de se mostrar, até que de forma engraçada, em uma cena na lanchonete ela derrete e cai como um jato d'água no chão. Considerei como uma  boa representação da covardia e do fracasso.



 A amizade que se forma entre a jovem Amélie com o seu vizinho ao longo do filme, é algo que deve ser destacado tanto quanto o vermelho e o verde que enfatizaram a sutileza e doçura do filme. Dufayel é um velho pintor, tão solitário quanto Amélie, têm um problema nos ossos e por isso evita sair de casa há anos e, visivelmente, não se relaciona tanto com as pessoas também. O pintor é quem eu achei que destaca um pouco da simplicidade do filme. Durante todo o próprio ele consegue aos poucos fazer com que Amélie saia de seu mundo de fantasias para encarar a realidade, que a moça sabe qual é mas não o faz.

Amélie é uma moça reservada, não encontrei palavra melhor sem parecer ofensiva para ela e os problemas que ela inventa para si própria e pela personalidade e características que adotou, não espontâneamente, mas por opção. Quantas vezes já não dissemos que éramos tímidos e quando fomos ver, estávamos em uma roda com 10 ou 15 pessoas, conversando desinibidamente e sem ajuda do álcool. Então as pessoas as vezes se rotulam como quem tem problemas, mentiras, as quais as próprias se fazem acreditar para tornar tudo mais fácil. Amélie sabia o que tinha que fazer para conhecer Nino de verdade, saber se rolaria algo ou não, mas não o fazia por acômodo ou medo. Preferia viver aquilo de uma forma imaginária, como alguém ausente (um tanto platônico eu achei).


Onde está a simplicidade do filme? está nos pequenos detalhes do longa e não só na fotografia com cores predominantes e maravilhosas. Não é bem um filme para todos os públicos eu achei, vai atrair maior parte de um público bastante sensível e observador. É um filme inspirador, que te faz querer amar, e mostra que as coisas mais valiosas são muitas vezes aquelas que somente passamos os olhos superficialmente, mas não enxergamos. E até te faz acordar pra vida, para as oportunidades, que amar não é o suficiente para si, precisa amar e lutar por quem ama, ou senão, seu coração com o tempo vai se tornando seco e quebradiço.

Direção: Jean-Pierre Jeunet.
Elenco: Audrey Tautou, Maurice Bénichou, Mathieu Kassovitz

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  1. "as pessoas as vezes se rotulam como quem tem problemas, mentiras, as quais as próprias se fazem acreditar para tornar tudo mais fácil"

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    1. Até hoje sou apaixonada por este filme como desde o momento em que o vi.

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