way2themes

Resenha: 500 Dias com ela (2009)

Por: | 04:00
Avaliação
Este filme é como uma reportagem que se você se basear somente pelo título (que seria o filme em si) sem ler a reportagem (que seriam os detalhes) você vai entender tudo errado. E foi exatamente o que aconteceu comigo na primeira vez que assisti o filme. Estava mexendo no computador e acompanhando o filme superficialmente, perdi detalhes essenciais para compreensão da história e dos personagens. E a impressão que tive no final do filme foi que Summer era uma vadia destruidora de corações, até que peguei para assistir o filme decentemente já depois de um ano, e além de ter entendido o filme, fiquei com raiva.
Você provavelmente já deve ter lido ou escutado sobre alguém falando deste filme e muito provavelmente dizendo coisas como "Eu sou como o Tom", "Eu sou o Tom", "Eu entendo o Tom" e dizendo isso com muito orgulho, pois bem.
Joseph Gordon-Levitt é Tom Hansen, trabalha escrevendo cartões comemorativos e acaba se apaixonando pela sua colega de trabalho Summer Finn, interpretada pela queridinha do indie Zooey Deschanel, uma garota super moderna, decidida e bem desencanada com a vida.
Tom é um cara imaturo que idealiza uma mulher em cima da garota pela qual se apaixona e do sentimento que ele tem por ela. Summer sabe que Tom gosta dela e os dois chegam a se envolver, e ela é uma mulher tão sensata que chega a ser inconveniente, a ponto do Tom estar tão contente e ela chegar no pé do ouvido dele e falar "não esquece que a gente está só ficando, nada mais". Ela gosta de curtir com ele, o que não significa que ela goste dele, assim como ele gosta dela. E ela deixa isso claro o tempo inteiro. Ainda por cima, suas emoções são mostradas de maneira infantil, que chega a ser irritante, como quando ele está no elevador ouvindo "The Smiths" e ela ao lado solta "Eu amo The Smiths" e ele age como se fossem voar coraçõezinhos em volta da sua cabeça e o destino estivesse dizendo que ela era a mulher da sua vida, já que tinham algo relevante em comum, o gosto por The Smiths. Ou quando ele transa com ela pela primeira vez e acaba fazendo uma cena musical na rua por isso. É como se você dissesse pra pessoa "Eu não te amo e não estou namorando você" e quando você saísse ela te ligasse e dissesse "Como você sai e não avisa seu namorado?". Você percebe que em nenhum momento Summer se culpa pelo comportamento vitimizado de Tom e sempre que pode coloca a mão no peito dele e diz "Vai com calma, não confunde".
"Nossa, Dani como você é chata e insensível" Não sou chata, é bonitinho até que você entende o contexto da história. A todo instante você se encontra forçadamente no mundo ilusório de Tom, um mundo que ele criou para si, e não que Summer criou para ele. O fato dele alimentar o amor dele por ela cegamente, como se ela tivesse mostrado ao menos interesse em reciprocidade, mas não. Nisso entra a febril e inconsciente necessidade humana de sofrer. E isso é fácil de se perceber no amor, você sabe que se olhar as coisas do outro, vai achar o que te magoa, ou que se não se esforçar para tirar este amor de si, vai sofrer também, porque no fundo você quer sofrer. Tom sabe que Summer não o ama, não há suposições ou dúvidas, ela deixa claro isso a ele. Ele se faz de coitado e ainda por cima quer fazer Summer se sentir culpada, culpada por não querer amar um cara "legal" como ele. Ela está perdendo.
Em algumas conversas você chega a vê-lo aborrecido com Summer em contra opiniões sobre valores amorosos. Seu amigo de convivência Mackenzie é machista e tão imaturo quanto ele, que tem pontos de vista como: Se você é uma garota que não namora porque não quer ter um namorado, você é lésbica. Porque na visão dele, só um homem pode querer viver uma vida independente de relacionamentos e querer ficar com uma pessoa sem pretensão de apego. E é difícil para o tipo de homem que ele é, aceitar que uma mulher não queira depender emocionalmente de um homem.
A estética do filme é muito legal, apenas deixe de lado a personalidade de Tom e você poderá apreciar todo o filme e coisas como, a trilha sonora incrível e nostálgica do filme e as referências musicais, uma camiseta do Joy Division, The Clash e etc. Os momentos legais de Tom e Summer, a forma sadia como ele permite que ela o influencie, e o faça descobrir coisas novas, ter uma visão nova do mundo e descobrir seus talentos, afinal, o cara desenha muito. A convivência e a conexão que se forma entre eles, ainda que vivam em mundos diferentes e sejam pessoas com perspectivas diferentes sobre a vida e o amor. Os momentos no cinema, na loja de móveis e os diálogos abertos sobre intimidades. A espontaneidade da junção e da separação, como tudo pode começar rápido e terminar mais rápido ainda. 500 Dias com ela não é uma história de amor ou sobre o amor. É uma história sobre pessoas, ideais, prioridades, e suas perspectivas de vida.
Dirigido por Marc Webb
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Zooey Deschanel, Chloë Grace Moretz.